Algodões, o descaso do poder público com o povoado

População do povoado, que pertence a Jussara, reclama da falta de infraestrutura em todos os serviços sociais

Algodões tem sofrido pelo abandono. Segregados, não apenas pela distância física, mas também pela distância social, a população reclama de descaso do poder público e são incontáveis as queixas. Povoado de Jussara, com status de quilombo, fica a aproximadamente 20 km da sede.

“As nossas crianças não tem nem como estudar, cheio de morcego, colégio tem mais de 3 anos que foi reformado. Estradas nós não temos, estamos 6 meses sem luzes, tem horas que é obrigado usar a lanterna. Assistência Social raramente vem aqui. Estamos praticamente recuados”, nos contou Cleidimar Gomes dos Santos, morador de Algodões.

 

Uma das escolas do povoado de Algodões, o muro está deteriorado. Foto: Ales Alves

À primeira vista, Algodões é um povoado simples, de terra batida e casas de blocos sem muito preparo. O povo humilde reclama da ausência de serviços sociais, como escolas, estradas, educação, saúde e assistência social. Uma das duas escolas do local está com as paredes comprometidas. O transporte para os alunos, um ônibus escolar, está existindo ainda aos trancos e barrancos. Aline Cristina, dona de casa, moradora do povoado reclamou que durante as chuvas não era possível levar as crianças à escola devido a “estrada precária”. “Meus filhos sempre ficaram mais em casa do que ia para a escola”, disse ela.

“Quando chove é buraco e lama e a desculpa é que não vai para a escola por que o ônibus vai atolar e as crianças precisam descer para empurrar”, relatou Aline.

A Unidade Básica de Saúde – UBS – do povoado recebe médico apenas uma vez ao mês ou no máximo à cada 15 dias. “Quando a gente fica doente é preciso pagar um carro de 60 reais para ir para Jussara e se de lá for preciso ir para Irecê é que tem ambulância. Nós não temos ambulância!”, desabafa Joires Barbosa dos Reis, moradora de Algodões. De acordo com moradores, existem muitos idosos com hipertensão no povoado, mas não há como aferir a pressão regularmente.

A UBS do povoado só tem visita médica uma vez ao mês, segundo moradores. Foto: Ales Alves

Contudo, chegamos até o povoado após as denúncias do descaso da assistência social com a população. As mais de 114 famílias residentes em Algodões ficaram impossibilitadas de receber as cestas básicas que seriam doadas pela campanha SOS Famílias do Sertão, inciativa do Projeto Nova Canaã, após a Prefeitura de Jussara, através da Secretaria de Assistência Social, impedir os caminhões de irem até o povoado. “Veio o pessoal da [Rede] Record, passaram em todas as casas, entrevistaram, perguntaram quantas pessoas viviam em cada residência, procuraram saber como que a gente vivia, como estamos enfrentando a pandemia”, disse Gilmara Gomes da Silva, moradora. O que os moradores querem entender, pois nada foi explicado, é a decisão da prefeitura de impedir o acesso dos caminhões com as cestas.

Francilene Gomes

No último domingo (24), a Rede Record levou ao ar uma reportagem gravada para o Câmera Record, falando sobre fome e seca no sertão. A personagem foi a moradora de Algodões, Francilene Gomes.

A matéria expunha o convívio de Francilene, seu marido e os 10 filhos. Casa simples, móveis destruídos, colchões sujos, panelas com insetos caminhando dentro e muitas cenas de miséria. A reportagem, segundo Fancilene, disse que a ajudaria nesse “momento de precisão”.

Francilene se tornou notícia ao dar entrevista ao Câmera Record. Foto: Ales Alves

Após a exibição da matéria, a Assistência Social procurou Francilene. Segundo ela, não é uma coisa costumeira e muito “difícil” de acontecer. “Eles falaram que não era pra deixar gravar a casa, pra não passar na televisão”, contou Francilene. “Eles [a Record] chegaram aqui querendo me ajeitar e eu não podia mandar embora. Eu só falei a verdade. Que eu não ia falar que eu tinha as coisas sem eu ter”.

Francilene nos disse também que “as mulheres da assistência social” pediram para ela assinar um papel, mas não sabemos o conteúdo. “Eu falei, eu não vou assinar por que, eu só sei pode-se dizer assinar meu nome que eu sou quase analfabeta, e aí eu não sei o que é que tá rolando e meu marido me falou para eu não assinar. Aí ela falou que ia tomar meus meninos. Eu disse: eu não que eu não to fazendo nada”, contou Francilene.

A redação da Caraíbas tentou contato com a Assistencia Social de Jussara, tanto presencial quanto por telefone, para esclarecer a situação de Francilene, mas não obteve êxito.

Ales Alves, Da Redação

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